Era uma noite comum, uma espécie de rotina, algo que Helen acreditava que se repetiria todos os dias e vezes, bem vestida como sempre e com um sorriso no rosto, talvez com uma pequena dor de cabeça. Ao chegar no seu apartamento muito bem decorado e limpo, brilhante e cheio de uma mobília nova, tinha se mudado recentemente de Chicago e trabalhava na escola. Uma garotinha de uns dez anos sentada na escada, cantarolava uma canção familiar, seu nome é Markie e Helen a convida para entrar e tomar um chocolate quente.
As perguntas e ousadia de Markie em relação ao passado de Helen são bem curiosas, como ela sabe exatamente de certas coisas, como ela consegue deixar uma adulta tão desconcertada? As respostas só são claras depois que assistimos novamente este episódio, e percebemos como um episódio pode trazer tantas camadas de interesse em relação a traumas do passado.
Efetivamente este é um episódio sobre máscaras psicológicas, sessões obscuras na mente humana em que guardamos nossos segredos mais sinistros. 'Além da Imaginação' em sua primeira temporada é bastante sobre tudo isso, sem o alcance de uma militância politizada, mas com a certeza de alguns temas recorrentes de cunho social, como o machismo e a violência contra as mulheres.
Se isso já era possível de ser observado em filmes como 'Rebeca' de 1940, também é possível aqui onde transformações já estavam sendo sentidas de uma maneira mais forte. A independência de Helen no episódio demonstra acertadamente que uma mulher pode simplesmente ter sua vida como trabalhadora e cuidar de sua casa ao final do expediente, sem que isso seja considerado nocivo.
Essa imagem de independência é marcante em alguns episódios da série, momentos repetidos em que observamos personagens não-fortes, mas realistas como é o caso de 'A morte pedia carona' com Inger Stevens que também é brilhantemente aproveitada por Rod Serling no papel de Nam Adams.
Ou também podemos ressaltar Ida Lupino dirigindo um dos melhores episódios de 'Além da Imaginação', denominado 'As Máscaras' e para fechar com chave de ouro o que dizer de ''O Sol da Meia-Noite'' com a excelente atuação da dupla Lois Nettleton no papel da jovem Norma e a veterana Betty Garde interpretando a Mrs. Bronson em um episódio que distingue as duas muito pela força de resistência em relação a situação que estão enfrentando.
Foto: CBS/ todos os direitos reservados |
Toda essa digressão serve para demonstrar que uma série televisiva da década de 60 é capaz de entregar episódios que possam refletir bastante sobre questões sociais, sem que isso a torne algo específico ou militante, parece algo superficial, mas na verdade é uma técnica de roteiro que poucos conseguem desenvolver, falar sobre algo de um modo sútil, mas sem ser raso. E definitivamente Rod Serling era mestre nisso.
Comentários
Postar um comentário